quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O monstro cresce


Há um monstro crescendo na frente da nossa janela. O pior não é o barulho que começa bem cedo de manhã e que castiga os ouvidos durante todo o dia, nem o pó que entra por qualquer fresta  tomando conta da casa. O pior é a visão que ficará obstruída para sempre. Onde tudo era verde, agora só há tijolos e concreto. Quando a obra estiver pronta, nem o arco-iris, no alto do céu, escapará da cruel opacidade imposta à nossa visão.

2 comentários:

  1. É como o poema de Alberto Caeiro.

    Da Minha Aldeia

    Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
    Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
    Porque eu sou do tamanho do que vejo
    E não, do tamanho da minha altura...


    Nas cidades a vida é mais pequena
    Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
    Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
    Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
    Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
    E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

    Um abraço.

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  2. Um dia falei com um habitante de uma das ilhas do arquipélago dos Açores. Este senhor, de aproximadamente 55 anos, me disse que embora já tivesse morado por longo tempo no continente, ele só se sentia realmente bem nas ilhas, porque lá os horizontes sempre eram amplos e a visão chegava ao infinito. Segundo ele nada poderia substituir a sensação que isto lhe causava. Na época ouvi e não entendi bem. Começo a achar que ele não falava bobagens.

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