sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Uma ameaça real que devemos conhecer


Certamente foram visionários aqueles homens que em 1947, ao constatarem que as florestas nativas do noroeste do Rio Grande do Sul desapareciam ao som ritmado dos machados, tiveram a sabedoria de decretar o pouco que ainda restava como Reserva Florestal.
O Parque Estadual do Turvo, com 17.492 ha, abriga uma biodiversidade muito rica. Muitas espécies de seres vivos têm este lugar como único e último reduto de sobrevivência no nosso Estado. É este, por exemplo, o caso da onça-pintada, da harpia e também do pica-pau-de-cara-canela, que durante muitos anos se acreditava estar extinto no RS, pois havia sido visto pela última vez em 1928.
Felizmente nos últimos anos esta raridade reapareceu e agora já tem quatro registros no RS, um deles realizado pelo grupo do COA-POA no último dia 21 de setembro.
Onde? 
Justamente no Parque estadual do Turvo.

Este parque abriga não somente seres vivos extraordinariamente belos e raros, como também uma queda d'água única, o salto Yucumã, o maior salto longitudinal do mundo, com 1.800 metros de extensão. Só isto já deveria ser o suficiente para decretar este parque como Patrimônio Natural da Humanidade.

Esta mesma humanidade, à qual por direito pertencem os patrimônios naturais únicos e importantes, vive uma época em que o poder econômico frequentemente tem mais valor que o direito à vida e à preservação.  Estamos permitindo que troquem o bem comum por interesses econômicos, escondidos sob o manto do desenvolvimento, que traz status e bem-estar a poucos em detrimento do que é de todos.
Para que não digam que estamos falando de coisas hipotéticas, ou que estamos fazendo divagações conservacionistas, falemos de algo concreto, de dois patrimônios que as barragens hidrelétricas sepultaram para sempre. É o caso das Sete-quedas que se encontram hoje sob o lago de Itaipu e do Estreito do Rio Uruguai, sepultado pelo lago da usina de Itá. O mesmo poderá acontecer com 10% da área do Parque Estadual do Turvo e talvez até com o salto Yucumã. Seria imperdoável, uma vergonha para a engenharia brasileira, um grande desrespeito àqueles sábios senhores, que em meados do século XX, tiveram a clarevidência de decretar a preservação desta área.

A montante do parque já existem quatro usinas hidrelétricas e mais três estão projetadas. As que estão em operação já mostram claramente seu efeito nocivo sobre a reserva natural. Vamos aos fatos:
Na tarde do dia 21/09 passado, ao chegarmos perto do salto Yucumã, a visão era a que temos nas duas próximas fotografias. Águas relativamente limpas, cobriam quase que totalmente o salto. O lado brasileiro do leito do rio, que em regime normal de chuvas fica com seu leito seco, estava coberto pelas águas. Os barcos de passeio, que saem da margem Argentina, desafiavam o canal correntoso no eixo do rio, para mostrar quedas de pequena altura aos turistas.


Ficamos sentados algum tempo na margem do rio Uruguai e estranhamos que este baixava muito rapidamente. Em pouco tempo já estávamos a uma distância  bem maior das águas do que quando havíamos chegado.
No dia 23/09, pela manhã, voltamos ao salto e  a surpresa foi que não só a margem brasileira encontrava-se completamente seca, como também a calha central do rio era profunda, além do fato de que as águas estavam mais barrentas do que anteriormente, como mostram as fotografias seguintes. O salto tinha mais de 10 metros de altura. Agora os argentinos navegavam no fundo da calha, apreciando quedas mais imponentes.


Que fenômeno é este? Como pode um rio escoar as águas das chuvas abundantes do início da semana em tão pouco tempo?
Este fenômeno certamente não é natural. Chama-se usinas hidrelétricas.
Guardas florestais que têm mais de 20 anos de trabalho no parque e que conhecem como poucos os regimes naturais de cheia e seca do rio, relatam que o nível do rio Uruguai é uma surpresa a cada dia. Variação de muitos metros ao longo de poucas horas acontecem com frequência.
Um deles, pessoa com uma larga vivência em contato com a natureza do local, pergunta:
"Como pode um peixe se multiplicar se ele precisa de águas mornas e paradas para colocar seus ovos e de uma hora para outra vem um caudal violento de água fria e destrói todo o ambiente de procriação?"
Provavelmente este guarda-parque não tem a mínima noção de como se faz um EIA-RIMA, não conhece nada dos complicados e caros documentos necessários para licenciar um empreendimento gigantesco como uma hidrelétrica, mas sabe exatamente o que é necessário para que a vida tenha continuidade nas águas do Uruguai. Este cidadão está desolado. Ele está diariamente vendo um patrimônio natural, ao qual dedicou grande parte da sua vida, ser agredido pelo sobe-e-desce artificial das águas. Se diz cansado de reportar a situação aos seus superiores em Porto Alegre, mas nada acontece, nenhuma resposta ele recebe e o sobe-e-desce continua a acontecer, com grande frequência, desde o início da operação das usinas.
O conjunto de todas as consequências deste ciclo acelerado das águas ainda não sabemos exatamente, mas ao menos uma nós constatamos e documentamos no local.
Quando o nível do rio desce rapidamente, resta uma grande quantidade de pequenas poças de água na pedregosa margem brasileira. Estas poças, por estarem cercadas somente de pedras, não têm a capacidade de reter a água por longos períodos, mas vão escoando a água num ritmo mais lento do que a velocidade de descida do rio. Nelas ficam aprisionados peixes de diversas espécies, dramaticamente condenados à morte. É só uma questão de tempo. Como a areia de uma ampulheta que vai caindo até o último grão, ao peixe resta só esperar a morte que virá inevitavelmente quando a última gota de água tiver escoado da pequena poça na qual está aprisionado. Isto é um fenômeno que sempre aconteceu de maneira natural. Antes das barragens acontecia uma ou duas vezes por ano, de acordo com o regime natural de cheias do rio e com muito menor intensidade, pois o tempo de vazante de uma cheia natural era longo. Agora o fenômeno acontece com a frequência e com a velocidade estabelecida pelas hidrelétricas.



As unidades de conservação no nosso Estado ocupam uma área ridiculamente pequena frente à área total do Rio Grande do Sul. Mesmo assim ainda aceitamos que ocorra impacto ambiental causado pelo homem sobre estas minúsculas, raras e mal vigiadas reservas. Existem verbas abundantes para financiar empreendimentos grandiosos, mas falta todo o tipo de recurso, para garantir a integral preservação dos últimos tesouros naturais que ainda restam no nosso Estado.
Honremos a memória daqueles que criaram o Parque Estadual do Turvo, respeitemos aquilo que fizeram pelas gerações futuras e lutemos para que o Turvo permaneça exatamente como ele sempre foi. Usinas elétricas são necessárias, não resta dúvida, mas devem ser implantadas e operadas de forma responsável, preservando integralmente aquilo que é inegociável, o patrimônio natural, que é de todos nós e que devemos deixar exatamente como está para as gerações que virão, quando já não estivermos mais aqui. Seria uma pena se nos vissem como aqueles que não souberam preservar o pouco que os nossos antepassados souberam deixar como patrimônio natural para nós.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Às custas das baleias

Os registros mais antigos da caça às baleias têm aproximadamente 8.000 anos. São inscrições rupestres encontradas no sul da Coreia. A caça aos cetáceos passou a ser encarada pelo homem como atividade econômica importante bem mais tarde, por volta de 1.400, inicialmente em águas próximas à costa norte-europeia. A grande demanda pelo óleo de baleia a partir de então fez desta prática uma atraente fonte de renda e a caça rapidamente se expandiu para águas mais distantes e para outros continentes. Muito cedo, ainda no século XIX, começou a ficar evidente que o ritmo de capturas era maior do que o crescimento natural das populações. Esta constatação, ao contrário de deflagrar iniciativas de conservação, estimulou o desenvolvimento de novas técnicas de captura, o que acelerou ainda mais o declínio das populações no mundo inteiro.
Aqui no Brasil não foi diferente. Muita gente dedicou a vida à captura dos cetáceos e viveu desta atividade. Como sempre ocorre em atividades exploratórias, muitos trabalharam duro, alguns até perderam a vida neste trabalho, mas poucos fizeram fortuna. A caça às baleias no Brasil só cessou por desinteresse econômico, pois já não havia mais o que caçar, pelo menos não em águas próximas da costa. A última baleia foi processada em Imbituba-SC no ano de 1973. A atividade havia se tornando anti-econômica e as pessoas que dependiam de caça às baleias tiveram que sobreviver por outros meios.
No início da década de 1980 as avistagens de baleias-francas na costa sul do Brasil eram praticamente nulas. Alguns barcos estrangeiros seguiam caçando em águas territoriais brasileiras, capturando os poucos cetáceos que ainda as frequentavam. Naquela época, no Brasil, todos estavam muito motivados em desenvolver o país e pouco se falava em conservação da natureza. As leis conservacionistas eram quase inexistentes e as poucas que haviam não eram respeitadas. Somente em 1987 foi promulgada a lei que proibiu definitivamente a caça às baleias no Brasil.
Muitos anos se passaram e começamos a viver o início de uma grande mudança no entendimento das questões ecológicas no mundo e também no Brasil. As pessoas passaram a se interessar mais pela natureza e os homens do mar, cujos antepassados viveram miseravelmente às custas das baleias, começaram a entender que poderiam eles próprios viver às custas delas, de uma maneira muito mais sustentável, correndo riscos infinitamente menores e com muito menos sofrimento. Hoje já há filas de turistas pagando para serem levados a verem as baleias-francas amamentando seus filhotes na costa de Santa Catarina.
O turismo ecológico já movimenta a economia da região, trazendo benefícios não só aos homens do mar, mas também aos homens que trabalham em terra, que trabalham em hotéis, pousadas, restaurantes e outros serviços relacionados à recepção de turistas interessados em ver as baleias. E o melhor de tudo é que as baleias estão aí quando não é verão, em época de baixa estação, quando viver do turismo é mais difícil.
O marinheiro, que se vivesse há algumas décadas talvez tivesse que ficar muitos dias no mar, correndo sérios riscos para capturar uma baleia, hoje tem um trabalho seguro. Com poucas horas de trabalho na semana consegue sustentar sua família de forma digna, sem perder a identidade de homem ligado ao mar.
No fundo todos já entenderam que a terra é um pequeno planeta no universo, que esta é a nossa única e definitiva morada e que dependemos dela para que a humanidade siga vivendo. O que move o ser humano, no entanto, é o dinheiro. Se lhe for dada somente a opção de destruir para viver, assim será. O triste é que muitas vezes há opções, mas uma mudança de atitude na maioria dos casos só vem quando a própria atividade exploratória e destrutiva fica inviável, quando a humanidade é forçada a encontrar uma solução porque o recurso natural se exauriu a tal ponto que já não tem mais condições de sustentar o homem na atividade exploratória. Devemos aprender com as baleias, que podemos sim viver às custas delas, mas que matá-las não é a única maneira de fazer isto.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Uma vista impressionante

Poder estar a mil metros acima do nível do mar e ter diante de si a vista de um dos litorais mais lindos do Brasil, é a recompensa para aqueles que enfrentaram três horas de escalada para alcançar o pico do morro Cambirela, em Santa Catariana. Além do litoral que se vê olhando para o oriente, mirando o ocidente vemos a  Serra do Tabuleiro, linda cadeia montanhosa coberta pela exuberante Mata Atlântica .







Fotos 2 a 4: Beatriz S. Hasenack

Ponte pênsil veicular

Nas proximidades de Florianópolis, no município de Palhoça, aos pés do morro Cambirela, existe uma curiosa ponte pênsil sobre o rio Cubatão.
Ao contrário de grande maioria destas pontes, que são somente para uso de pedestres, esta admite a passagem de veículos automotores. A princípio deveria passar somente um veículo de cada vez, mas...
... a pressa não deixa que os motoristas aguardem a passagem de um carro, para depois ingressar na ponte. Não é raro ver 4 ou mais veículos sobre ela.
Quer experimentar o balanço?