domingo, 26 de setembro de 2010

Leões e alguns lobos


Apesar do aspecto ameaçador do céu, os ventos eram calmos e a navegação até a única ilha oceânica na costa do Rio Grande do Sul prometia ser tranquila. Os molhes curtos da barra de Torres tornam a saída para o mar, pelo rio Mampituba, uma operação arriscada em dias de mar grosso. Naquele dia as ondas não eram muito grandes e não tivemos problemas e seguimos em segurança para a Ilha dos Lobos, afastando-nos da cidade mais setentrional da costa gaúcha.

A Ilha dos Lobos não passa de um punhado de pedras que afloram um pouco acima do nível da água. Não há nenhum tipo de vegetação e o desembarque na ilha é algo extremamente arriscado, além de proibído, por ser a ilha uma área de proteção ambiental, para a sorte de leões e de lobos marinhos.


Nos meses de inverno estes mamíferos ocupam as pedras da Ilha dos Lobos, onde se alimentam e se preparam para o retorno às áreas de procriação, bem mais ao sul. Embora a ilha se chame Ilha dos Lobos, a população predominante é de leões marinhos.

Mesmo que o dia cinzento não tenha sido uma ameaça à navegação e à segurança, o céu encoberto com pesadas nuvens não permitiu fotografias de melhor qualidade dos animais que disputavam um lugar sobre as pedras.

Espetáculo extra



Havíamos saído da barra do rio Mampituba em Torres, para navegar algumas milhas náuticas para longe da costa a fim de observarmos aves pelágicas. Já navegávamos há mais de uma hora quando percebemos uma agitação incomum no horizonte. Alguém mais experiente gritou imediatamente:
-Golfinhos!!!
O timoneiro corrigiu ligeiramente a posição do leme para que rumássemos diretamente para o local onde víamos aquilo que alguns ainda não acreditavam que fossem golfinhos. Em poucos minutos ninguém mais tinha dúvidas, eram mesmo golfinhos. Não eram dois ou três, eram muitos mais. Àquela altura já deveriam ser mais de 50 que se aproximavam da embarcação pelo lado de bombordo. Em mais alguns minutos eles nos cercavam por todos os lados e curiosos, nadavam ao nosso redor, espiavam com seus olhos espertos para fora da água e davam saltos no ar, como que querendo se exibir para quem acabara de chegar.
Tudo durou aproximadamente 15 minutos e assim como surgiram também se foram. Eram golfinhos da espécie golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis) que deram um epetáculo extra àqueles que haviam saído para ver apenas o espetáculo das aves pelágicas.


Voo magistral

Asas extremamente longas e estreitas e corpo de linhas aerodinâmicas são a configuração necessária para um planador perfeito. O albatroz passa 10 meses do ano em alto mar. Vai para a terra firme somente quando está em atividade de nidificação.

Para manter-se voando gasta pouca energia, pois aproveita em seu favor os ventos que deslizam sobre a superfície ondulada do mar. Na face inclinada de cada onda cria-se uma pequena corrente de ar ascendente. É justamente esta energia que o albatroz utiliza para elevar seu corpo no ar e planar até a próxima onda, onde novamente o vento que sobe pela face inclinada da onda eleverá o seu corpo e ele se manterá assim, planando, planando, num balé veloz, de plasticidade e beleza indescritível. Somente voando muito próximo da água é que ele aproveita o efeito vertical daquela pequena corrente de ar ascendente, dando emoção a quem observa o voo do albatroz, que dá rasantes inacreditáveis com as longas asas estendidas sobre a água.

Ele tem ainda uma adaptação engenhosa, uma membrana tendinosa que mantém as asas abertas depois que elas foram distendidas, poupando a ave de qualquer esforço muscular com este fim.


Na hora de pousar, o voo veloz exige que todos os freios aerodinâmicos sejam acionados. Nesta hora pés, cauda e asas são usados ativamente para reduzir a incrível velocidade do albatroz, permitindo que ele pouse na água para buscar alimento ou descansar.


Poder ficar longas horas a observar a maravilha que é o voo de um albatroz é um privilégio que todos deveriam poder ter na vida, uma daquelas pequenas coisas que completam a nossa existência.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Quatro Ilhas - 1984

Era janeiro de 1984 e mais uma vez estávamos acampados naquela prainha pequena que fica entre Bombas e Bombinhas, que hoje é propriedade da família Schürmann. Sim, há apenas 26 anos ainda fazíamos camping selvagem em Bombinhas, que mudou demais desde aquele tempo. Pois aquela prainha onde acampávamos costuma ter águas muito calmas, sem ondas. Então às vezes saíamos dali, a pé, para passar o dia em Quatro Ilhas, onde, como hoje (e isto não mudou), o grande atrativo eram as ondas. Muitas vezes carregávamos um caiaque conosco pela estrada afora. Pois Quatro Ilhas em janeiro de 1984, num bonito dia de sol, era assim:

Não havia vendedores ambulantes, nem barracas de praia, poucos surfistas e somente algumas casas de pescadores no canto esquerdo da praia. Passávamos o dia "pegando jacaré" e descendo as ondas de caiaque, numa época em que poucos se atreviam a fazê-lo. Bom mesmo era o beijo da namorada quando se chegava à praia!

Lá não havia praticamente recurso algum. Não havia restaurantes, bares, pousadas, sorveterias, lojinhas de souvenir, internet, celular, lan house, TV por assinatura (acho que nem a TV aberta pegava direito); nada daquilo que achamos imprescindível, mas não consigo concordar que hoje Quatro Ilhas seja melhor do que era em 1984.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Longe dos problemas

"Quando estamos em contato com a natureza conseguimos passar um dia inteiro sem lembrar que os problemas existem."

Foi com estas palavras que um casal amigo agradeceu a oportunidade de nos acompanhar num dia de caminhada até o alto da cachoeira Pedras Brancas, de lanchar à margem do riacho e de contemplar o vale que avança rumo ao sul, onde o céu parece ser ainda mais azul. Coisas simples, que aos poucos vamos esquecendo que existem. A sociedade moderna está desaprendendo a desfrutar o convívio com a natureza, que é fonte de inspiração e relaxamento; a antítese da maioria dos nossos problemas, que quase sempre somos nós mesmos, a sociedade humana, que geramos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Repartir o peixe

Dominar a arte de jogar a tarrafa é obrigatório para quem quer ganhar o pão de cada dia pescando. Só quem já jogou uma tarrafa e viu os pesos de chumbo cairem todos juntos na água, sabe que aquilo que parece simples na verdade não o é.



Depois de jogar a tarrafa, de contar com a sorte de ela ter caído sobre um cardume e de recolher a rede cheia de peixes, o pescador divide o fruto de sua arte com um simpático lobo marinho. Ele já aprendeu que pode ser mais fácil fazer amizade com os humanos do que ficar nadando atrás dos peixes.