segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A cebola faz chorar



Tavares é um pequeno município gaúcho situado entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos. Região de terras arenosas, açoitadas pelo vento, lugar de gente simples, que se dedica sobretudo à agricultura.
Antigamente a ovinocultura era importante, mas deixou de ser bom negócio porque a lã, substituída por fibras sintéticas, já não tem preço atrativo no mercado. Algumas cabeças de gado são criadas, mas as terras secas e arenosas não são ideais para esta atividade. Restam poucas opções e a principal delas é o cultivo da cebola, vegetal que se adapta bem às condições de clima e solo da região.
A safra da cebola está por ser iniciada. As lavouras estão bonitas, a colheita será grande, assim como é grande o desânimo dos produtores. Enquanto que nos supermercados de Porto Alegre o preço do quilo da cebola varia de 1,35 a 1,59 reais, o produtor está recebendo apenas R$ 0,15 por quilo.
Visitei um agricultor que espera colher 30 toneladas na sua lavoura, o que ao preço de hoje vai lhe dar um rendimento bruto de 4.500 reais. Deste dinheiro ele tem que pagar as sementes, o adubo, os defensivos agrícolas, as máquinas, ferramentas e combustivel que utiliza, o trabalho de vários meses dele e da esposa que o ajuda e ainda remunerar o capital, que é o valor da terra que ele cultiva.
Países desenolvidos têm políticas de preços mínimos para produtores rurais, porque os seus governantes sabem muito bem que a produção de alimentos é estratégica para um país, mas muito mais do que isto, sabem que as cidades já abrigam gente e problemas demais e que a forma mais econômica de fixar as pessoas no campo é dando-lhes condições dignas de ganhar a vida. É também uma forma justa de distribuir renda.
Se não for assim, o agricultor que visitei será mais um que fará o mesmo que tantos vizinhos seus já fizeram. Venderá as suas terras por preço baixo a empresas "reflorestadoras" que estão transformando a paisagem da região em um deserto verde de pinus, contribuindo para concentrar mais e mais a riqueza nas mãos de poucos e destruir ecossistemas milenares.

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