quinta-feira, 20 de maio de 2010

Evolução e emoções

Em breve o meu pai estará comemorando 80 anos. Quando estas datas se aproximam é comum começarmos a revirar velhas gavetas cheias de fotografias que há décadas ninguém olhava. Pois eu me encontro neste processo, o de preparar uma coletânea de fotos que de alguma maneira retratem a trajetória de vida do meu pai.

Estamos vivendo uma época de evolução alucinante. Objetos de alta tenologia se tornam obsoletos em poucos anos. Para citar apenas um exemplo, lembro que quando eu era jovem surgiu o gravador com fita K7. Era o sonho de consumo de qualquer jovem na minha adolescência. Já meus filhos nunca viram um gravador de fitas K7 funcionando.

Enquanto isto há outros bens de consumo, que para continuarem atendendo às exigências do mercado tiveram que evoluir e fizeram com que seus semelhantes, fabricados há alguns anos atrás, se pareçam com dinossauros. Um exemplo disto vemos na foto abaixo que foi tirada na década de 1950.

Da mesma década de 1950 é a foto a seguir, na qual meu pai aparece tocando um violino, que não só hoje tem a mesma aparência daquela época, como vem sendo fabricado desde o século XVI quase da mesma maneira, com mínimas diferenças.

Cada um pode tirar suas próprias conclusões dos fatos, mas o velho violino ainda soa em 2010 e nas próximas décadas violinos provavelmente farão mais lágrimas rolarem do que qualquer prodígio da tecnologia.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Felicidade segundo Seu Raimundo


Pena que ele já morreu. Inúmeras vezes estivemos passeando na sua propriedade rural em Rondinha - RS. Lá ele passou toda a sua existência. Muitas horas passamos com ele, conversando sobre tudo, inclusive sobre como ser feliz. Beatriz, nosso amigo Marcelo Medaglia e eu o visitávamos com frequencia desde 1985. Em janeiro de 2005 fiz a foto acima e escrevi uma pequena crônica sobre a conversa que tivemos naquele dia. Hoje o texto parece mais atual do que naquela época, acho que vale a pena publicar. Tomara que tenham 5 minutos para dedicar à leitura:

"Seu Raimundo" é um homem simpático, 77 anos, homem pouco letrado, que nasceu e vive até hoje em uma pequena fazenda na beira da Lagoa de Itapeva, no litoral do Rio Grande do Sul. No passado era um lugar muito ermo. As coisas mudaram e hoje a casa dele fica a menos de 2 km de uma importante rodovia, mesmo assim não tem energia elétrica, nem geladeira, nem fogão a gás, nem televisão, nem outros confortos da vida moderna.
Vivia com sua velha mãe e depois que esta morreu, vive só.
Vive no meio da natureza. Vive daquilo a natureza lhe dá: o peixe, o leite das vaquinhas que ele cria, ovos e carne das galinhas, mandioca que ele mesmo planta, batata, feijão, água da cacimba e umas coisinhas que ele compra no mercado a 4 km de sua casa.
Desligado do mundo ele não é, pois o seu inseparável rádio de pilhas o mantém muito mais informado do que muitos navegadores da internet conseguem ser.
Sempre afável ao receber visitas em sua humilde casa de madeira, de muitas frestas nas paredes e telhado, por onde os fortes ventos do litoral sopram nas frias noites de inverno, está sempre pronto para compartilhar sua filosofia de vida com o visitante.
Era feriadão de ano novo e ele comentou que novamente umas 30 pessoas morreriam em acidentes de trânsito naqueles dias. Começamos então a falar daquilo que torna as pessoas felizes ou infelizes e ele disse:
"As pessoas saem para se divertir e a diversão que encontram é um acidente na estrada. As pessoas correm o tempo todo atrás de uma felicidade que nunca encontram. Se têm um carro bom, querem um melhor. Se têm dinheiro, querem mais. Se uma firma vai bem, a concorrência busca acabar com ela e ficar de dona do mercado. As pessoas nunca conseguem estar contentes, em paz consigo mesmas. Elas insistem em criar sempre novas necessidades para que possam buscar uma felicidade que nunca encontram. Eu fico aqui no meu canto e sou feliz, muito feliz. O que preciso para viver eu tenho: comida, água, na minha volta o verde do mato e dos campos, o azul do céu e da lagoa. Que mais eu preciso para ser feliz? Não faço mal a ninguém e ninguém me quer mal. Tenho o que necessito para viver e ninguém me inveja por isto. A natureza me dá o que preciso e não faço nenhum mal a ela."
Nos dias atuais viver como o "Seu Raimundo" parece absurdo, mas é possível ao menos aprender com ele a dar menos ouvidos aos apelos diários de uma sociedade que nos impõe padrões de consumo para que sejamos felizes, felicidade que nunca conseguimos alcançar. Na verdade sempre são criadas necessidades além das nossas possibilidades o que nos deixa eternamente infelizes. Dizer não a estes apelos talvez seja a melhor maneira de nos livrarmos desta pressão que nos torna infelizes.
Segundo o "Seu Raimundo", sejamos ricos ou sejamos pobres, viver em harmonia com o que temos, sendo bons para os outros e para o ambiente que nos cerca, é a chave da felicidade.

domingo, 9 de maio de 2010

As baleias voltaram


Durante toda sua existência as baleias francas passaram os meses mais frios do ano na costa brasileira. O descobrimento do Novo Mundo pelos povos ibéricos decretou o fim da paz dos cetáceos nas nossas águas. Foram mais de 400 anos de caça implacável a estes animais, o que por muito pouco não provocou a sua total extinção. Em 1973 foi processada a última baleia em Imbituba - SC. Depois disto ainda alguns navios-fábrica estrangeiros continuaram capturando animais nas nossa águas antes que a caça fosse definitivamente encerrada.
Agora, passados aproximadamente 30 anos da data em que as últimas baleias foram abatidas nas águas brasileiras, elas estão de volta. Ano após ano, lentamente, o número de baleias avistadas na costa catarinse aumenta. Em 13 de outubro de 2009 vimos mais de 30 indivíduos (adultos e filhotes) nas águas tranquilas da praia da Ribanceira em Imbituba.

Poder ver estes mamíferos desfrutando novamente as nossas águas em paz me motivou a escrever uma música que conta esta triste história com final feliz e ela será usada em programas de educação ambiental do Projeto Baleia Franca em Imbituba - SC.