sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pioneirismo de adolescente

Eu tinha apenas 13 anos de idade e encontrei numa livraria um livro em alemão, com trabalhos manuais para meninos. Pedi e aquele foi o meu presente de Natal em 1974. Havia ali muitas idéias, a maioria eram pequenos brinquedos, carrinhos, barcos e inclusive uma miniatura de um trenó de neve movido a vela. Aquilo aguçou o meu senso criativo e na minha cabeça aquele pequeno trenó a vela se tranformou em um carrinho com rodas de dimensões maiores, para que eu mesmo pudesse usa-lo. Comecei a fazer desenhos, juntar materiais, restos de madeira, rodas de bicicletas estragadas e uma longa vara de maderia para servir de mastro. Eram materiais de sucata que eu pretendia transformar em um carro a vela. Um dos desafios era transportar o carro para a praia, onde pretendia usá-lo. Decidi que deveria ser desmontável, feito de pequenas partes que pudessem ser carregadas num fusca, o veículo da família. Assim durante o ano de 1975 coloquei mãos à obra e o tal do carrinho desmontável foi tomando forma. Tudo serrado a mão, furado com arco de pua, trabalho duro mas prazeiroso. Ver o projeto se tranformar em realidade me motivava a continuar. Como era feito de muitas peças pequenas, cada parte da estrutura de madeira recebeu um código numérico para facilitar a remontagem. Chegou a hora de fazer a vela. Fui a uma loja de tecidos e comprei o que de mais barato havia, algodão cru. Só que eu não estava satisfeito em ter uma vela com cor de algodão cru. Então comprei aquelas tintas em pó para tingir tecidos e a vela recebeu as cores vermelho, azul e amarelo. A velha máquina de costura a pedal da minha vó serviu perfeitamente para que eu mesmo costurasse a vela, com reforços de brim nos punhos e bolsas de tecido dentro das quais seriam colocadas talas de taquara, a fim de mantê-la armada. Somente os ilhoses é que foram colocados pelo sapateiro que trabalhava na esquina da rua onde morávamos. No início do verão seguinte o carrinho estava pronto. Os testes de rodagem foram feitos na rua, na frente de casa, sem mastro nem vela, porque havia muitos fios elétricos. Os testes de rodagem foram um sucesso. Agora faltava o teste final, com mastro e vela, na beira da praia. Naquela época não tínhamos casa na praia e meu tio, que normalmente cedia sua casa por alguns dias durante o verão, havia vendido a casa. Acabanos não indo para a praia naquele ano. Assim também aconteceu em todos os anos seguintes. Somente em 1984 os meus pais construíram uma pequena casa na praia de Rondinha e finalmente, depois de 10 anos, em 1985, eu pude montar novamente o carrinho e fazer sua estréia na beira da praia. O atraso de 10 anos fez com que aquele carrinho a vela talvez não tenha sido o primeiro a percorrer as areias da costa gaúcha, mas foi obra de um garoto de 14 anos, que tinha sempre muitas idéias na cabeça.




Fotos de Beatriz Schlatter

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Choveu, e agora?

Os meteorologistas erraram mais uma vez. Deveria ser um final de semana com tempo bom. O sábado foi nublado e o domingo amanheceu com uma chuva mansinha que durou até o anoitecer. Dia perfeito para ler, conversar, namorar e por que não, fotografar. Instalei o tripé na área de casa e descobri que as aves, numa árvore ali perto, pensavam como eu. Um bom dia para namorar!



A Prainha de 1978 a 1984

Foi em 1978 que acampei pela primeira vez na Prainha que é como chamávamos aquela pequena praia que fica entre Bombas e Bombinhas, em Santa Catarina. Estas duas praias eram um pouco mais que uma vila de pescadores e pertenciam então ao município de Porto Belo. Na Prainha havia pouco lugar para acampar. O morro era coberto de mato e havia apenas um pequeno gramado, bem na beira do mar, para colocarmos as barracas. Era ali que ficávamos. Recordo o dia em que um casal de meia idade chegou à Prainha e a senhora desceu o morro em nossa direção exclamando: "Que lugar lindo, isto é o paraíso!" Mas então parou, olhou em volta e questionou: "E banho, onde é que vocês tomam?" Apontamos para o mar e seu rosto deixou claro que aquele paraíso não era para ela. Sim, banho de água doce era um luxo que tínhamos somente em dias de chuva. A água potável trazíamos a pé de Bombas, em pesadas bombonas e racionávamos cada gota, mas tudo era motivo de alegria e integração total com a natureza. Comíamos o que pegávamos mergulhando perto das pedras, ali na frente das barracas. Lagostas, badejos e robalos eram a refeição diária.

As lembranças são bem mais antigas, mas as fotografias que tenho são de 1984, uma época em que já havia iniciado a exploração imobiliária em Bombas e Bombinhas.


À esquerda desta foto se vê o único lugar onde era possível colocar as barracas, bem pertinho do mar.


Acima uma foto da baía de Bombinhas. Em primeiro plano o morro que separa a Prainha de Bombinhas, ainda sem nenhuma edificação.



Observe sombra do caiaque projetada no fundo do mar. Esta era a qualidade da água do mar.


Mergulhando perto das pedras submersas é que pegávamos os peixes e lagostas que comíamos diariamente.


Ao fundo se vê a praia de Bombas já com alguma ocupação imobiliária em 1984 quando acampei pela última vez na Prainha.

O mundo evolui



Paisagens como esta ainda existem, mas cada vez menos. As casas históricas dão lugar aos edifícios. Os barcos dos pescadores artesanais vão sumindo aos poucos, porque as novas gerações preferem outros ofícios. As tranquilas praças dos povoados são remodeladas e se tornam menos pitorescas. Talvez chegue o dia em que veremos estas paisagens somente em fotografias. O mundo evolui. Para melhor? Não sei, mas evolui.

O sol dá o tom

Fria é a temperatura e frias são as cores da madrugada. Em poucos minutos o sol modifica o cenário, aquecendo tudo em volta, dando cores ao mundo, duplicando as imagens no espelho perfeito da água tranquila. Logo logo o espelho será destruído pela brisa que virá, efeito do sol que aquece a terra.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dóceis e tranquilas



Céu, o mar azul,
Lindas praias águas claras,
Paz, amor sem fim,
Paraíso sem igual.
Baleias francas amamentavam
Os seus filhotes e procriavam,
Sem predadores nem malfeitores,
Eram milhares...



Naus e galeões,
Velas abertas ao vento,
Lusos, espanhois,
Terras foram conquistar.
Navegadores e caçadores
Do velho mundo aqui chegaram
Embarcações com seus arpões,
Buscavam francas...


Dóceis e tranquilas,
Águas mornas desfrutavam,
Sem imaginar,
Que a paz ia acabar.
Com concessões do nosso rei,
Nasce a indústria baleeira,
Levando luz, comodidade,
Para cidades...


Foi quase sem fim,
Mais de quatrocentos anos,
Dor sem compaixão,
O massacre na armação.
Chegamos quase à extinção
De um patrimônio tão valioso,
Nossas baleias e seu filhotes,
Sobraram poucas...


Sol, o mar azul,
Lindas praias águas claras,
Paz, até que em fim,
Tudo está em seu lugar.
Baleias francas amamentando
Os seus filhotes e procriando,
Sem predadores nem malfeitores,
São só dezenas...Serão milhares!



Versos da música "A Volta das Baleias Francas" composta em outubro de 2009. Fotos de outubro de 2010 em Imbituba - SC.