quinta-feira, 29 de maio de 2014

O exemplo de Ygor, o gigante uruguaio


Lá onde o Rio Grande do Sul termina, junto à linha de marcos que separam o nosso Estado do Uruguai, encontra-se Thomaz Albornoz, um minúsculo lugarejo, esquecido pelas autoridades, desconhecido de quase todos os brasileiros, numa terra de horizontes planos, onde em dias nublados de inverno o frio e o vento fazem com que as pessoas mantenham-se dentro de casa.


Por detrás do marco limítrofe entre Brasil e Uruguai está o primeiro estabelecimento comercial brasileiro. Nele, mais do que em qualquer shopping center de uma grande cidade, encontra-se realmente de tudo.


Vitrines e holofotes, no Varejão Macanudo, não há. Assim, é na rua que colocam as amostras das mercadorias para atrair os compradores. Tanques de lavar roupa, pneus para moto, botijões de gás, ponchos, botas, boinas, arreios e refrigerantes, são só alguns dos artigos que ali podem ser encontrados. Com o frio que está fazendo os clientes são raros e como o último ladrão de galinhas foi morto há muito tempo, um orgulhoso galo desfila tranquilamente em frente ao estabelecimento, sem ser incomodado por ninguém.


O dia está nublado, faz frio, os clientes do Varejão Macanudo não apareceram, as pessoas estão abrigadas em suas casas, as duas ruas de Thomaz Albornoz estão completamente vazias. Mas em tempos de Copa do Mundo, o clássico Brasil e Uruguai não pode deixar de ser disputado e como é costume, a cada final de tarde os atletas comparecem pontualmente ao local do jogo. Orgulhosamente os jogadores posam para uma foto. Uniforme eles não têm, chuteiras muito menos, mas mesmo naquele rincão esquecido as grifes americanas conseguiram colocar a sua marca no peito de três adolescentes. Diferenças de idade, porte físico e habilidades são ignoradas. A amizade, que para eles vale mais que qualquer rivalidade, permite reunir em um só retrato ambos os times. Só eles é que sabem quem defende qual país.


O jogo começa. O campo é ali mesmo, no meio da rua de terra e a bola deve ser chutada entre duas pedras colocadas no chão. A batalha é mortal. Os jogadores dão tudo pela sua pátria. Acho que é assim que surgem os Romários, os Neimares e outros iluminados, que um dia correram atrás da bola num campinho de terra batida em algum recanto pobre deste país, para depois tornarem-se milionárias estrelas mundiais.


A plateia é composta apenas pelo amigo gordinho que preferiu andar de bicicleta, mas parou para dar uma olhadinha no clássico. Isto em nada diminuiu o empenho e a entrega dos jogadores pela sua pátria.


Como é de costume, o pior, ou neste caso, o menor, joga de goleiro. No gol está Ygor, com quatro anos de idade. Ele provavelmente ainda nem compreende o que acontece naquele casarão verde à sua direita, onde todas as noites os peões de estância vêm descarregar as suas tensões nos braços da loiríssima Xuxinha, mas já é homem suficiente para defender, corajosamente, com pose de dono da posição, a meta uruguaia.


O ataque brasileiro avança firme em direção ao gol adversário.


A batalha é dura, a defesa falha e o petardo sai certeiro e forte em direção ao gol. Só que lá está Ygor. Ele não recua, oferece o rosto à bola, evitando que o Brasil faça o gol.


O impacto é cruel e o choro ele não consegue conter. A assistência é dada pelo companheiro de defesa, muitos anos mais velho, que invoca o brio uruguaio, exige coragem e o dever de dar tudo pela pátria.


Prontamente o pequeno Ygor se recompõe e assume honradamente a posição de um gigante na defesa do seu país, sem exigir nada em troca.


É de fazer inveja a muito marmanjo - um exemplo para muita gente!

Clique sobre as fotos para vê-las em tamanho maior.


2 comentários:

  1. Que barato!!!! Muito tri esta postagem! Como foste parar neste fim de mundo? Aliás, fiquei com vontade de conhecer este fim de mundo!

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    1. Tiane, realmente um lugar bem diferente do que estamos acostumados a frequentar, mas um lugar de gente muito acolhedora.

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