quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Atmosfera irrespirável

Hoje os jornais e os sites de notícias estão cheios de comentários e fotografias da gravíssima situação da contaminação atmosférica na China.
Isto não é novidade. A foto acima foi feita em setembro de 2005, no meio da tarde, em Shangai, na China. Aquela tênue esfera cor de laranja que aparece no canto superior é o sol. O que o encobre não são nuvens, é poluição.
Aquela situação me motivou a escrever um pequeno artigo que foi publicado em um jornal que havia na empresa onde eu trabalhava na época. O texto é o seguinte:


A natureza é o limite

As pessoas que têm 40 anos ou mais, assistiram nas últimas décadas uma transformação impressionante causada por aquilo que chamamos de desenvolvimento.
Desenvolvimento gera riqueza e riqueza gera consumo. É bom para a economia, é bom para o ser humano. Nas últimas décadas o número de pessoas que teve acesso aos bens de consumo cresceu de maneira exponencial. Hoje em dia muito mais pessoas possuem uma motocicleta, um ou mais automóveis, aparelhos de ar condicionado, enfim, confortos da vida moderna.
Matérias primas brasileiras são transportadas para a China. Lá são transformadas e depois enviadas para consumo nos Estados Unidos ou na Europa. A cada dia mais homens de negócios viajam pelos quatro cantos do mundo tentando vender seus produtos. A competição mundial fez com que o tráfego aéreo em algumas regiões do planeta esteja no limite do caos.
No Brasil isto às vezes não fica tão evidente, pela vastidão do nosso território e pela relativamente baixa densidade demográfica. Em regiões densamente povoadas como a Europa, como o sul da China, isto fica muito mais evidente. Há milhões de pessoas que já vivem as 24 horas do seu dia em ambientes climatizados, pela impossibilidade de terem janelas abertas para ventilação natural dos ambientes, seja pela poluição do ar, poluição sonora ou simplesmente por motivos de conforto térmico. Muita partes do mundo não produzem mais alimentos, mas recebem estes das mais diversas regiões do planeta.
O desenvolvimento da economia gera riqueza e riqueza gera consumo e consumo gera sem dúvida uma carga ambiental. Para que mais automóveis saiam às ruas, para que mercadorias sejam transportadas, mais petróleo deve ser extraído, transportado, refinado, distribuído e queimado. Para que mais pessoas usufruam do ar condicionado, mais energia deve ser produzida. Com mais dinheiro, as pessoas consomem mais, por conseqüência, geram maior impacto ambiental.
Há regiões no mundo em que a água para beber depende da indústria do petróleo. Nestas regiões ou a água é escassa ou está completamente contaminada e só se consegue água limpa depois de destilada em fábricas que dependem da energia do petróleo. A distribuição desta água é feita em garrafas plásticas, novamente produzidas pela indústria petroquímica e distribuída por caminhões, movidos a petróleo. Quando esta cadeia se romper por qualquer razão, a população rica e desenvolvida ficará sem água para beber, talvez o bem mais fundamental da nossa vida. No sul da China normalmente só se vê o sol como uma tênue esfera de cor alaranjada, tamanha a contaminação atmosférica naquela parte do planeta.
Aí se coloca a pergunta: qual é o limite do desenvolvimento e do consumo humano?
As alterações climáticas do nosso planeta começam a se tornar evidentes e estão sendo noticiadas diariamente. Isto coloca de uma maneira muito clara que o limite do que chamamos de desenvolvimento será dado pela natureza. Não é possível crescer indefinidamente, pois não haverão recursos naturais suficientes para suportar este crescimento, a começar por um simples copo de água, que poderá se tornar um bem disputado a alto preço.

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