Os registros mais antigos da caça às baleias têm aproximadamente 8.000 anos. São inscrições rupestres encontradas no sul da Coreia. A caça aos cetáceos passou a ser encarada pelo homem como atividade econômica importante bem mais tarde, por volta de 1.400, inicialmente em águas próximas à costa norte-europeia. A grande demanda pelo óleo de baleia a partir de então fez desta prática uma atraente fonte de renda e a caça rapidamente se expandiu para águas mais distantes e para outros continentes. Muito cedo, ainda no século XIX, começou a ficar evidente que o ritmo de capturas era maior do que o crescimento natural das populações. Esta constatação, ao contrário de deflagrar iniciativas de conservação, estimulou o desenvolvimento de novas técnicas de captura, o que acelerou ainda mais o declínio das populações no mundo inteiro.
Aqui no Brasil não foi diferente. Muita gente dedicou a vida à captura dos cetáceos e viveu desta atividade. Como sempre ocorre em atividades exploratórias, muitos trabalharam duro, alguns até perderam a vida neste trabalho, mas poucos fizeram fortuna. A caça às baleias no Brasil só cessou por desinteresse econômico, pois já não havia mais o que caçar, pelo menos não em águas próximas da costa. A última baleia foi processada em Imbituba-SC no ano de 1973. A atividade havia se tornando anti-econômica e as pessoas que dependiam de caça às baleias tiveram que sobreviver por outros meios.
No início da década de 1980 as avistagens de baleias-francas na costa sul do Brasil eram praticamente nulas. Alguns barcos estrangeiros seguiam caçando em águas territoriais brasileiras, capturando os poucos cetáceos que ainda as frequentavam. Naquela época, no Brasil, todos estavam muito motivados em desenvolver o país e pouco se falava em conservação da natureza. As leis conservacionistas eram quase inexistentes e as poucas que haviam não eram respeitadas. Somente em 1987 foi promulgada a lei que proibiu definitivamente a caça às baleias no Brasil.
Muitos anos se passaram e começamos a viver o início de uma grande mudança no entendimento das questões ecológicas no mundo e também no Brasil. As pessoas passaram a se interessar mais pela natureza e os homens do mar, cujos antepassados viveram miseravelmente às custas das baleias, começaram a entender que poderiam eles próprios viver às custas delas, de uma maneira muito mais sustentável, correndo riscos infinitamente menores e com muito menos sofrimento. Hoje já há filas de turistas pagando para serem levados a verem as baleias-francas amamentando seus filhotes na costa de Santa Catarina.
O turismo ecológico já movimenta a economia da região, trazendo benefícios não só aos homens do mar, mas também aos homens que trabalham em terra, que trabalham em hotéis, pousadas, restaurantes e outros serviços relacionados à recepção de turistas interessados em ver as baleias. E o melhor de tudo é que as baleias estão aí quando não é verão, em época de baixa estação, quando viver do turismo é mais difícil.
O marinheiro, que se vivesse há algumas décadas talvez tivesse que ficar muitos dias no mar, correndo sérios riscos para capturar uma baleia, hoje tem um trabalho seguro. Com poucas horas de trabalho na semana consegue sustentar sua família de forma digna, sem perder a identidade de homem ligado ao mar.
No fundo todos já entenderam que a terra é um pequeno planeta no universo, que esta é a nossa única e definitiva morada e que dependemos dela para que a humanidade siga vivendo. O que move o ser humano, no entanto, é o dinheiro. Se lhe for dada somente a opção de destruir para viver, assim será. O triste é que muitas vezes há opções, mas uma mudança de atitude na maioria dos casos só vem quando a própria atividade exploratória e destrutiva fica inviável, quando a humanidade é forçada a encontrar uma solução porque o recurso natural se exauriu a tal ponto que já não tem mais condições de sustentar o homem na atividade exploratória. Devemos aprender com as baleias, que podemos sim viver às custas delas, mas que matá-las não é a única maneira de fazer isto.
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