domingo, 29 de junho de 2014

Um tesouro mal guardado


A paisagem do Pampa gaúcho é quase toda assim: terras planas e gado pastando em campos a perder de vista. Quando as tempestades se formam, podemos vê-las de longe. Árvores quase não há, a menos que sejam plantadas pelo homem, como são os eucaliptos.


Existe, no entanto, lá no cantinho oeste do Rio Grande, junto à tríplice fronteira entre o Brasil, o Uruguai e a Argentina, no município de Barra do Quaraí, um lugar muito especial. Trata-se da única savana, parecida com a da África, que temos no Brasil. É uma paisagem típica de parte do nordeste da Argentina e também do noroeste do Uruguai, que ultrapassa as fronteiras com os países vizinhos e adentra terras brasileiras. Paisagens deste tipo são chamadas de "formação parque" e nelas vemos árvores nativas, de pequeno porte, espalhadas aleatoriamente pela pradaria. Um dia esta formação ocupava uma área considerável às margens dos rios Quaraí e Uruguai, mas a demanda por lenha, moerões de cerca e por áreas para agricultura fizeram com que hoje esta formação esteja  quase que exclusivamente restrita ao Parque Estadual do Espinilho, uma unidade de conservação criada em 1975 e ampliada em 2002, que tem hoje uma área de 1.617 ha. Só pelo fato de que esta paisagem é única no Brasil, já podemos dizer que o Parque do Espinilho guarda um tesouro.


Existem, porém, neste parque, muitos outros tesouros. O mais precioso deles é, sem dúvidas, o cardeal-amarelo, uma ave linda, com um canto forte e melodioso, muito cobiçada por passarinheiros e principalmente por traficantes de animais silvestres. Esta ave tem, no Parque Estadual do Espinilho, a única população conhecida no Brasil e por isto considerada criticamente em perigo de extinção. Cientistas que estudam o cardeal-amarelo afirmam que "a captura crônica de indivíduos na natureza para criação em cativeiro e abastecimento do mercado ilegal de aves silvestres, fizeram com que esta ave praticamente desaparecesse do RS". Hoje a população conhecida é de menos de 30 indivíduos, todos restritos à área do Parque Estadual do Espinilho. Isto é tudo o que resta no nosso país. É, portanto, uma preciosidade, um tesouro a ser guardado e protegido a qualquer custo.


Qualquer Parque Estadual deve, com certeza, ser bem vigiado. Se ele abrigar e for o último refúgio de um tesouro muito especial, como é a população remanescente de cardeais-amarelos no Brasil, esta vigilância deve ser redobrada.
O fiel depositário deste tesouro é o Estado, responsável pela Unidade de Conservação e como tal, obrigado por lei e por compromisso moral a protegê-lo.
E qual é hoje a real situação da área?
Nos dias 20 e 21 e junho passados constatei, junto com amigos do COA-POA (Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre), uma situação de alto risco no Parque Estadual do Espinilho. Esta Unidade de Conservação tem apenas uma funcionária, justamente a gestora do Parque. Não há nenhum guarda-parque contratado e o que estava de serviço naqueles dias, havia sido cedido por outra Unidade de Conservação do Estado, por apenas duas semanas. Por ser de outro Parque ele obviamente não conhecia a área e pior, estava desarmado, porque os portes de arma de todos os guardas de unidades de conservação do Estado do RS estão vencidos e não foram renovados.
Esta situação é extremamente grave. Temos um patrimônio precioso que está à mercê de pessoas mal intencionadas, que ante esta falta de providências do Estado, podem agir na ilegalidade, com uma probabilidade muito baixa de serem molestadas.
Populares do município de Barra do Quaraí, com os quais conversamos, nos contaram que é de conhecimento público que a prática de caça e retirada de madeira para moerões de cerca de dentro deste Parque Estadual acontece.
É obrigação do Estado zelar por este patrimônio único (assim como por todas as outras unidades de conservação) através do provimento de recursos humanos e materiais suficientes para a garantia da segurança do Parque Estadual do Espinilho e dos tesouros nele contidos.
É obrigação dos cidadãos exigir que o Estado cumpra integralmente a sua função na proteção das unidades de conservação.
Da maneira como o Parque do Espinilho está desprotegido, corremos o risco de cedo ou tarde termos de apreciar o por do sol, às margens do rio Quaraí, sem ouvirmos o canto do cardeal-amarelo.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Paródia do Pampa

Parodiando o poeta:
Nossos campos têm mais cores,
Nossas vidas mais amores!





quarta-feira, 11 de junho de 2014

Homens do pampa

Cuidar de ovelhas, do gado, fazer cercas - estas são as atividades diárias dos homens no pampa gaúcho (na ordem das fotografias, um capataz de fazenda, um alambrador e um pastor de ovelhas). Pessoas simples, com belas histórias de vida, sempre dispostas a compartilha-las, sem pressa, com quem chega. A urgência do cotidiano urbano não existe e por isto sempre há tempo para uma boa prosa.





quinta-feira, 5 de junho de 2014

Aos peixes de Torres


Peixes, cuidem-se!
Em Torres tem gente demais querendo pegar vocês, todos os dias, a qualquer hora, em todos os lugares, de todas as maneiras, com qualquer tempo, mesmo que haja ressaca no mar.